Thursday, November 30, 2006

Grito (II)

Emoção pura
Indefinível
de expressão tão difícil
soluço, lágrimas, suspiro
Tudo
E nem assim o alívio...

Emoção forte
Resposta à morte
Vida pulsando
Transbordando
se energizando
em seus olhos
doces olhos...

Emoção
Síntese de outras
ao extremo vividas,
Agora ...
ultrapassando limites
se traduzindo num grito...

Cecília

Saturday, November 25, 2006

Máscara e face se defrontam
Pares?
O mesmo olhar comprido
Atravessando o tempo:
Passado, presente, infinito....
Sombrio
Passo, passas (tão pouco fica)
Vazio...
Solitários somos...
Interrogativo:
O que há além da vida?
Trágico e triste:
E faz sentido?...

22-04-02

Cecília



Dourada face, que me espia interrogativa,
Pareces dizer:
“O que trazes para mim, um verso?
Me contemplas pensativa
Enquanto tentas desvendar o meu mistério
Te desafio: o que te intriga?...
Serão meus olhos baços que te atraem
Fruto de lembranças, tempo vivido,
Dores sofridas, talvez mágoas?
Ou será meu nariz longo e largo
Antítese da beleza consagrada
Ou ainda meus lábios finos,
Quase um traço,
Fechados, a enclausurar palavras
Abortar sorrisos,
Tão econômicos, enigmáticos?...

Mas...sou máscara
Dourada máscara de olhos baços
Posso me adaptar à tua face:
Esconder tua alegria (inalterável)
Ou te contagiar (ai de ti)
com minhas mágoas..”

17- 04- 2002
Cecília

Friday, November 24, 2006

Amor Infeliz

Este amor voraz:
me suga,
silencia,
paralisa,
entristece,
adoece,
me tira toda energia.
Esmaga outros amores,
suscita culpa, temores,
a idéia de castigo.

Mostra-se inclemente, maldito,
antítese da paz e alegria.
Por isso na sombra se refugia,
iludindo o consciente,
mantendo minh’alma doente,
mas crente que é livre e feliz.

Só que provo outra vez o seu gosto
e mais difícil é o retorno,
pois novamente sou bicho,
só instinto, alma solta.

Então... me auto destruo,
me como por dentro,
sou puro veneno,
sou fogo, inferno,
sou aço, sou ferro,
por trás de um rosto... indiferente.

Cecília Quadros

Thursday, November 16, 2006

São Paulo

De ti faço parte:
Um grãozinho de areia
Em duna que se espalha,
Crescendo à vontade, livre,
Como que pelo vento levada.
Nada te cerceia
Assimilas, cresces
Assumes tua diversidade
E de cada um, orgulhosa,
Exibes um traço.

Sinto-me músculo, sangue,
Ínfima parte
Desse coração que bate
forte, jorrando vida,
neste país incrível,
com seus contrastes:
que vive sempre esperança
(tua imagem ampliada),
dá e nega,
chama, conclama
e exclui...
Chora, canta,
E com tudo,
Avança.

São Paulo
Mistura
Sol, garoa e chuva
Solidão entre muitos,
Parques e muros,
Algum verde
No cinza escuro
Barulho
Miséria e luxo,
Braveza e doçura.
Esta, única...
Mas de outro lado:
Desperdício, injustiça,
Estragos..
Triste realidade
Inevitável a pontada...
Amor ufanista e doído,
Próprio do povo paulista,
Que te ama, sim,
Às vezes envergonhado...

Cecília

Página em branco

Página em branco
Me convidando a segredar-lhe
O que em mim hoje se passa
Transferência, não.
Apenas desabafo...
Sentimento com ela compartilhado
Ou melhor nela espelhado
(assim talvez melhor compreendido
assimilado)
Eu, personagem...
Busca, inquietação, perplexidade
Tomam agora por inteiro este espaço
Antes branca, leve, desafiadora página...

Cecília Quadros

Tuesday, November 14, 2006

Internauta

Quem sabe um dia
a saudade seja maior que o medo,
a curiosidade que a conveniência,
a ternura aprisionada, maior que a grade...


Quem sabe uma certa inquietação advenha,
ou insatisfação pela história não terminada.
A condição era a palavra. Lembra?


Mas, quem sabe
seja eu agora quase nada...
Como tantas outras,
internauta esquecida numa página...

Cecília

Friday, November 10, 2006

Sonho e vida

Vida é sonho
Os meus procuro ansiosamente
- questão de sobrevivência -
Na pressa os perco, os esqueço
E fica um vazio de assustar.
Reajo, encontro uma possibilidade,
Nela me agarro, me distraio.
Aos poucos, os outros, vou recuperar...

Cecília

15-05-03
A liberdade que dos deuses eu esperava
Quebrou-se. As rosas que eu colhia,
Transparentes no tempo luminoso,
Morreram com o tempo que as abria.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Thursday, November 09, 2006

Twins

That one
who is bird, poet
cloud, flower,
and lives inside me
disappears
leaving behind
emptiness
and sorrow


The other one,
her twin, pragmatic,
feeling weakened, downhearted
wonders if she lets time pass,
tries hard to bring back the absent one,
or only disguises her pain,
being conscious
that they are body and soul
Hand in glove
One for the other
Comfort and support...

Cecília

Duas

Aquela que vive em mim ,
que é pássaro, poeta,
nuvem e jardim
escapa
deixando enorme vazio.


A outra, pragmática,
Se sentindo desvitalizada,
não sabe se disfarça,
se “dá um tempo”
ou se se empenha
para que volte a “ousada”,
pois são corpo e alma,
unha e carne,
uma da outra sustentáculo...

Cecília