Thursday, August 21, 2008

Levando...

Há um quê de tristeza no meu canto,
na minha solitária dança.

Há um quê de espanto ante este imutável
cotidiano.

Parece que da última vez, já se passaram anos.

De você, esperava tanto...
Troca, aceitação, confiança.

Como nos escravizamos,
ou nos deixamos escravizar.
E mais fundo mergulhamos
até a luz do sol não mais enxergar.
E assim a sagrada vida atravessamos,
sem sustos, desafios, e sem mudanças,
pois acima de tudo respeitamos:
os outros, nós mesmos, nossos limites.
Até nos enganamos, nos convencendo
de que há outra chance: outra vida,
novo par, uma outra dança...

Cecília

Wednesday, August 13, 2008

Não merecemos nos intitular artistas:
ignoramos o valor daquele brilho em nosso espírito
Não merecemos nos considerar poetas:
nossos versos têm quimeras, não têm entrega.
Somos tão cheios de reservas...
Somos falsos poetas.
Não buscamos plenitude, completude
Passamos incólumes por este deserto
Ignoramos sede e fome:
de viver - sabes o que eu quero dizer.
E vivemos tão bem aqui, plantados no chão.
E que se dane a paixão...

Cecília

De flores e bonecas de louça...

Meu piano está mudo,
também não escuto a voz do meu coração.
Ignoro meu lado sensual e mouro,
sou só boneca de louça vazia de desejo e emoção.

Triste, procuro para mim uma outra imagem
e sou agora flor única, rosa solitária,
só em outra árvore encontrando a alma irmã.
De resto, sou admirada por meu tom suave,
não me foi dado o vermelho intenso da paixão.
Tento por você manter o frescor, a luminosidade,
ainda que só para preencher um sonho, uma idealização...


Cecília

Tudo

Tudo
Palavra - veludo
Que intriga
Assusta
Despe meu pensamento
Sugere caminhos
Tomada de consciência
Tudo
Que vence,
engana censura
Auto-censura
Amor maduro


Tudo
Agora tão transparente
Busca de transcendência
Envolvimento
Pleno....

Cecília

Liberdade

O poema é
A liberdade


Um poema não se programa
porém a disciplina
- sílaba por sílaba-
o acompanha


Sílaba por sílaba
O poema emerge
- Como se os deuses o dessem
O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen

Saturday, August 09, 2008

Não fomos amantes
Não nos perdemos em beijos e abraços apaixonados.
Não nos sentimos fragmentados se distantes.

Não fomos amigos
Faltou cumplicidade, apoio, carinho,
quando pedras interceptaram nosso caminho.

Não fomos companheiros
Não desfrutamos juntos de uma hora inteira.

O que fomos senão necessária fantasia
matéria para a criação de um quadro ou de uma poesia.

Alma sem rosto, que a memória apaga,
tão rápida a passagem, vazia de significado.
Só uma valsa em sonho juntos dançada.

Cecília

Friday, August 08, 2008

O círculo em torno de mim se fecha,
mas não deixo que a angústia me alcance.
Abro para a vida uma outra janela,
para que entrem a luz, a alegria e a esperança.

Entra também o amor de contrabando,
no coração e na alma se instalando.
Bendita hora em que abri aquela fresta,
com a tristeza e a escuridão não me conformando.

Rompido o cerco, vejo preservada minha chama,
no meu e em seu amor se alimentando.
Então rio, brinco, canto, danço,
abro caminhos, sou novamente alegre viajante.

Cecília

Tuesday, August 05, 2008

Quero com você subir e descer as ladeiras da minha cidade,
sentar ao seu lado naquele banco, na praça.
Passar pelo colégio, pelo cinema, pela farmácia.
Resgatar aquela alegria juvenil,
aquele amor nascente, adolescente,
não entendido, talvez até invejado.
Rever paisagens, tantas vezes congeladas em quadros,
de um pintor pela vida apaixonado.
Descobrir o lugar, onde você morava,
imaginar seus primeiros desenhos, seu quarto,
e aquela escultura no clube, que nem conheço,
e da qual tanto me orgulho.
E admitir que me importo,
que lhe abro minha porta,
que o guardo na memória,
mais que isso, na alma, agora...

Cecília

Procura-se

Alegria perdida,
motivação para a vida,
brilho, que em meus olhos vivia,
sorrisos, risos, sorrisos.

Chama que na alma ardia,
desejos, que nada escondia,
que nas faces coradas se via,
no andar, no dançar,
no ato de escrever poesias.

De que se nutria a alegria?
Talvez só de fantasia;
de qualquer forma existia,
e tantas montanhas movia...

Cecília Quadros

Monday, August 04, 2008

Homenagem ao amigo

Rua Dona Carolina, 88


Vi passar todos os circos do mundo
pela minha janela.
Do outro lado do rio, eles vomitavam pregões
e exalavam músicas.
Naquele mundo de sonho e ilusão,
conheci também o vento, que carregava para outros
cantos, os sons que entravam pela minha janela.

Elvio Santiago ( EAS)

Sunday, August 03, 2008

Não deveria ficar nada...
Ilusão não mata
Nem faz tanto estrago
Nada que um gesto leve não afaste

Fantasias são breves...leves...
Chegam, afagam,
Inspiram às vezes versos
E partem

Outras vêm, burlam vigilância,
Cuidado.
Pegam a alma desavisada,
Entediada
E se instalam,
Dando uma falsa sensação
De perene felicidade.
Mas são volúveis, frágeis
E como nuvens se esvaem...

Não era para ter ficado.... nada...

Cecília

Saturday, August 02, 2008

"Rituais" de Paulo Bomfim e Dudu Santos

Exercício com ilustrações de Dudu Santos


1. Nudez: corpo e alma se mostram: você inteira

2. Movimento: graça instintiva, distraída, inconsciente...

3. O corpo fala e o pincel capta...

4. Contornos: tua beleza captada em rápidas pinceladas

5. Você, sugerida...adivinhada

6. Costas: linha perfeita, apoio para teus negros cabelos


7. Vento: te despenteia e me desmorona...

8. Pernas coxas nádegas... Deslumbrado, faço teu retrato...

9. Poucos traços e do nada surge a mulher dominando o universo do artista

10. Em você a casa, o abrigo, o mundo...

11. Na noite escura, destaca-se a brancura do teu corpo: neve, nuvem..

12. Jogas para trás os ombros e o movimento de teus cabelos me derruba: tombo

13. Assim de lado... meia paisagem me fascina, engole, traga

14. Mãos finas, femininas, de tua beleza só mais um item

15. Teu movimento me prende e juntos somos uma só emoção

16. Traço as linhas do teu corpo e o meu destino...

17. Mora a poesia no teu corpo alvo, saindo de total negrume




18. Preto e branco: obsessão, loucura.

19. Amazona, cavalgas o meu destino...

20. Te reverencio A quem o fazes?

21. Pés: fetiche, mais coxas... tudo...

22. De costas.. de frente... tema permanente...

23. Aberta para o amor e para a vida...

24. Teu corpo: meu pincel já te conhece. Corre sozinho...

25. Tua fragilidade captada. E o louco desejo de ampará-la...

26. Sentada: teu corpo à vista e o olhar adivinhado...

27. Tuas mãos... teus gestos...e meu olhar interrogativo...

28. Braços dobrados, dobrando meu coração

29. Nua... noite... minha...

30. Te insinuas, natural e nua na minha arte, na minha vida..

31. “Índia”... graça trocada entre amantes...

32. Curvas desenham teu corpo. Retos só teus cabelos negros

33. Plenitude

34. Assim pensando, encantas e embaralhas meus pensamentos...

35. Musa... te sei de cor. Rápido é o traço, independente, fácil...



36. Sensualidade: eis aqui o teu retrato...

37. Sombras se desfazem para tua passagem..

38. Recorrente o tema, a imagem se simplifica

39. Teu corpo fala de promessas e alegrias...

40. Ressalto tua beleza em fundo escuro...

41. Bastam alguns traços e eis que surge a mais sonhada das paisagens...

42. Com um traço faço a sua boca, que fechada me intriga e guarda

43. Na intimidade, a vivência plena de um amor sem fim...

44. Em ti o resumo de todas as mulheres... de todos os amores...

45. O pincel acaricia a página, enquanto faz o caminho das tuas curvas.

46. Te refaço...te recrio... na tela te aprisiono...

47. Na tela teu corpo exposto. A alma?... privilégio de poucos.

48. Exercício, fixação... tua imagem em pastel, nanquim ou carvão...

49. Alguns traços revelam, outros escondem: puro jogo do inconsciente

50. Amor, não excluas meu olhar obsessivo, a poesia, o traço.

51. Você, sugerida... adivinhada...

Cecília

Vovó Olga dizia tudo isso e muito mais...

CARLOS HEITOR CONY

Verdades verdadeiras


RIO DE JANEIRO - Tristezas não pagam dívidas. Não adianta chorar sobre o leite derramado. Mais vale um pássaro na mão que dois voando. Diga-me com quem andas e te direi quem és. O homem é aquilo que come. A cavalo dado não se olha a boca. Um é pouco, dois é bom, três é demais. Quem pariu Mateus que o embale.Não se faz omelete sem quebrar ovos. Quem parte e reparte fica com a maior parte. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Vai-se o anel, mas ficam os dedos. De grão em grão a galinha enche o papo. Cão que ladra não morde. Devagar se vai ao longe. Apressado come cru. Deus ajuda a quem cedo madruga. Ri melhor quem ri por último.Quem dá esmola empresta a Deus. Águas passadas não movem moinho. Paris vale uma missa. Quem tem boca vai a Roma. Todos os caminhos levam a Roma. Roma não foi feita num dia. Os rios correm para o mar. Cavalo não sobe escada. Na terra de cegos quem tem um olho é rei. Mais vale um marido vivo do que um herói morto.Partir é morrer um pouco. Escreveu não leu, o pau comeu. Dinheiro não traz felicidade. Nada melhor do que um dia depois de outro, com uma noite no meio. Perdão foi feito pra gente pedir. Macaco, olha o teu rabo. Matou a cobra e mostrou o pau. Depois de velho, o diabo se fez monge. O peixe morre pela boca. Quem tudo quer tudo perde. Esperança é a última que morre.O inferno são os outros. Em boca fechada não entra mosquito. O bom cabrito não berra. Quem vai para a chuva é para se molhar. O bom filho à casa torna. De poeta e louco todos temos um pouco. Fiado só amanhã. Galinha velha dá bom caldo. Depois da tempestade vem a bonança. Depois da bonança vem a tempestade. Boa romaria faz quem em casa fica em paz. A mentira tem pernas curtas. Antes dos grampos, só as paredes tinham ouvidos.

Só não falava de grampos...

Cecília