Friday, November 19, 2010

Escolhas

Silêncio

Que dá margem a interpretações diferentes
Cômodo, esperto, um jeito de ganhar tempo
Fugir da raia
Ou conservar em banho-maria o sentimento
Mas há que se ter cuidado com o contrário:
Indiferença tomando espaço
Ou emoção como a raiva efervescendo
Melhor acreditar na transparência...

Cartas na mesa

Uma a uma vou abrindo
Conhecendo teus pensamentos e segredos
Jogamos limpo:
Dos meus também terás conhecimento
Neste jogo vence o mais leal,
quem menos medo tiver de mostrar as suas cartas
Direito à desistência e prêmio à coragem:
Exposição requer bravura e sinceridade


Caminhos alternativos

Nos perdemos em curvas, estradas secundárias
Não vamos direto a nenhum assunto
E a vida se mostra cada vez mais complicada...

Cecília

Thursday, November 18, 2010

Para nós que fazemos bom uso da Internet

CARLOS HEITOR CONY

Amor virtual
RIO DE JANEIRO - Recém chegado ao universo virtual, tenho sentimentos contraditórios a respeito da nova linguagem que, aparentemente, e até aqui, está unindo homens e mulheres, velhos e crianças, doentes e sadios numa humanidade especifica, que, por não ter existido antes, agora está sendo testada.
Ouve-se falar em abusos de sexo e pornografia, de pedofilia e outras taras que encontraram um espaço surpreendente na telinha. Telinha que, por bem ou por mal, está substituindo o livro, o jornal e a própria TV, uma vez que pode condensar tudo isso num pequeno e cada vez menor retângulo iluminado.
Assim como não me atrai a pizza que a gente encomenda, paga com cartão, mas recebe fria, o sexo virtual não me deslumbra suficientemente para me dedicar a ele. Prefiro o sexo em sua tradicional versão off-line.
Contudo, sou obrigado a reconhecer a eficiência da comunicação eletrônica, notadamente o e-mail, naquilo que antigamente os caretas chamavam de paquera e hoje tem outros nomes.
Pois o que acontece comigo -e deve acontecer com todo mundo- é a assombrosa capacidade do relacionamento virtual, que, entre mortos e feridos, sempre dá para pescar uma alma solitária, ou mesmo -levando ao limite- aquelas que se intitulam "coração em chamas", colocando-se adredes para receber o jato salvador que as inunda de salvação.
Um homem terminal, não por gosto, mas por contingência histórica, já não teria esperança e muito menos direito de manter certo tipo de diálogo com a geração que anda pelos vinte e tantos anos. No início, estranhei este tipo de diálogo/envolvimento, recusei alguns, pedindo que tomassem juízo.
Que eu próprio tivesse juízo. Mas começo a me habituar. E, um pouco envergonhado, admito que estou gostando.

Wednesday, November 17, 2010

Cômico? Triste? Espelho de nossos dias

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Geisy na roda
SÃO PAULO - Levou um ano para que a roda da fortuna desse a volta completa no caso Geisy Arruda.
No final de outubro de 2009, ela foi alvo do acesso de fúria dos colegas. Teve que ser retirada da Uniban escoltada, sob humilhações e ameaças de estupro. O vestidinho, as alegações machistas de que a jovem se insinuava -tudo serviu de pretexto para respaldar a barbárie. A universidade decidiu expulsá-la, em nome do "ambiente escolar".
Estava anunciado para ontem o lançamento de "Vestida para Causar", uma biografia precoce de Geisy, 21 anos. Seu produto mais falado, no entanto, é o ensaio de capa para a revista "Sexy", que vai batendo recordes de vendas.
Com o sucesso, Geisy se vinga da sociedade (e da universidade) que a ultrajou; a sociedade, por sua vez, usa o sucesso de Geisy como oportunidade para reafirmar preconceitos que tinha desde o início sobre ela -e assim também se vinga.
Humilhação social e ascensão social não são antagônicos, mas estão misturados e submetidos à mesma lógica fulminante neste caso. Geisy parece protagonizar uma espécie de reality show na vida real.
"Passei sete dias de cama, uma dor horrível, mas para a minha autoestima foi bom, como eu te disse, minha proposta de vida é evoluir", disse ela, ao relembrar da lipoaspiração que fez em fevereiro, numa entrevista a "O Estado de S. Paulo".
A conversão da jovem da periferia em celebridade segue um roteiro bem conhecido: fazer plástica (mais peito, menos barriga), ser destaque no Carnaval, participar de programas de auditório, lançar sua grife, enfim posar nua. Geisy completou o ciclo, que lembra menos a roda da fortuna do que a roda-viva.
Como quem intui que essa fantasia cobra um preço alto demais e pode evaporar num estalo, ela diz:
"Hoje mesmo fui atrás de um tapete de Cinderela, já tenho copos de Cinderela, lençol, toalha, meu quarto na casa nova vai ser todo de Cinderela -porque eu sou a Cinderela, você sabe, não é?".

Wednesday, November 03, 2010

Uma idosa pede passagem

ANNA VERONICA MAUTNER


Quanto treino é exigido do homem urbano para passar do útil, do produtivo, para o à toa, o fazer por fazer?



O AUMENTO da proporção de idosos na população vem preocupando governos de todo o mundo. Atender os de mais idade demanda revisão da distribuição orçamentária, assunto bem complicado para legisladores e executivos. Difícil chegar a consenso.
Lendo sobre o assunto e mesmo vivendo na própria pele, eu queria falar sobre o uso, pelos idosos, não dos recursos econômicos, mas do tempo e do espaço.
Não há a menor dúvida entre especialistas de que a qualidade de vida do idoso relaciona-se com a atividade tanto mental quanto corporal. Mudar de ser planejante, sempre cheio de objetivos e intenções, para um ser capaz de atividades com vistas não para o "amanhã" e sim para o "aqui agora" demanda treino, consciência e empenho.
As instituições voltadas à saúde do idoso preocupam-se com gastos, prevenção, orçamento, sem dúvida parte importante do problema.
Mas eu pergunto: quanto treino é exigido do homem urbano para passar do útil para o à toa, o só por fazer, pelo simples prazer de realizar e se aperfeiçoar?
A aposentadoria muitas vezes pode parecer precoce, e o tempo de vida, depois de terminada a chamada etapa produtiva, foi se tornando, felizmente, cada vez mais longo. Deveríamos cuidar do projeto para o bem viver nessa faixa etária bem antes de a aposentadoria ocorrer.
É necessário desenvolver aptidão para o fazer por fazer, o estar por estar, sem qualquer ligação com fins outros que não o instante que se está vivendo.
Isso é mais ou menos familiar com crianças antes de entrarem na escola propriamente dita. No pré e no jardim, tudo é espontâneo e à toa. Mas não há nenhuma possibilidade de retorno a essa etapa na terceira idade.
Toda uma outra história já se inseriu nas nossas vidas, marcando as mentes a ferro e fogo, como tatuagem.
Já escrevi sobre a importância da praça neste mesmo espaço de jornal. Retomo a ideia. Cabe aos urbanistas e a eles dirijo o pedido de prever muitos espaços de convivência -esportivos, artísticos, culturais ou de mero convívio.
Lugares que não existam para despertar desejos, como shoppings, mas sim espaços públicos de uso voluntário, isto é, onde não se precise ter carteirinha nem dinheiro.
Quero ir, voltar, ficar só ou em companhia. Quero ser objeto de trabalho de urbanistas e promotores culturais, não só de médicos e economistas.