Tuesday, September 20, 2011

Novamente viva

E de repente sua alegria me invadiu
e com ela um sabor diferente na vida:
doce, gostoso,irresistível
mesmo para alguém com dosagem alta de glicemia...

De repente seu jeito casual e simples
despertou em mim a vontade de vestir um jeans
e sair por aí atrás de um picolé de coco,
de um filme bacana no cinema do bairro,
seguido por caminhada pelas ruas de mãos dadas
rindo de bobagens, achando tudo engraçado...

De repente, ante a sua presença
renasceu em mim a vontade de ver a praia, o mar,
e sob sol intenso conversar...conversar... até cansar
E no silêncio a seguir
ainda curtir
o prazer da companhia
o dia
a vida...

Cecília
20-09-11

Protocolos do afeto

LUIZ FELIPE PONDÉ



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A prática do afeto na convivência em família pode ser apenas protocolo para despistar o desespero
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Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une.
Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa.
Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto.
Até o darwinismo, uma teoria ácida para muitos, estaria disposta a abençoar esses protocolos com a sacralidade da necessidade da seleção natural. Mesmo ateus, que costumeiramente se acham mais inteligentes e corajosos, tombam diante de tamanho gosto de enxofre.
Pergunto-me se grande parte do sofrimento psíquico e moral de muita gente não advém justamente da demanda desses protocolos de afeto. Da obrigação de amar aqueles que vivem com você quando a experiência desse mesmo convívio nos remete a desconfiança, indiferença, abusos, mentiras e mesmo ódio.
A horrorosa verdade seria que existem pessoas que não merecem amor? Pelo menos não de você. Mas você é obrigado a amar irmãos, filhos, pais, avós, e similares. E, se não os amar, você adoece.
Um sentimento vago de desencontro consigo pode ocorrer se um dia você se perguntar, afinal, por que deve amar alguém que por acaso calhou de ter o mesmo sangue que você? Alguém que é fruto de um ato sexual entre o mesmo homem e a mesma mulher que o geraram em outro ato sexual.
Quem sabe a força do "mesmo sangue" seja uma dessas coisas que a experiência moderna esmagou, assim como a crença, para muita gente já vazia, no sobrenatural, na providência divina ou no amor romântico. Sim, o niilismo teria aí uma de suas últimas fronteiras?
É comum remeter esse vazio da perda dos vínculos de afeto ao mundo contemporâneo da mercadoria. Apesar de ser verdade que os laços humanos se desfazem sob o peso do mundo do capital, parece-me uma ingenuidade supor que o mal da irrealidade dos afetos seja "culpa" do capital.
É fato que a modernidade destrói tudo em nome da liberdade do dinheiro, mas é fato também que não criou a espécie em sua miséria essencial. A melancolia tem sido a verdade do mundo muito antes da invenção do dólar.
Por que devo amar alguém apenas porque essa pessoa me carregou em sua barriga por nove meses? Ou porque penetrou, num momento de prazer sexual, a mulher que iria me carregar em sua barriga por nove meses?
Por alguma razão, questões como essas parecem mais sagradas do que Deus, o bem e o mal, ou a vida após a morte. Como se elas devessem ser objetos de maior fé do que as religiosas. Ou porque elas garantem a convivência miúda e tão necessária para a estabilização da sociedade. Só monstros colocariam em dúvida tal sacralidade.
Mas quantas horas nós passamos vasculhando nossas almas em busca de afetos que, muitas vezes, podem ser o contrário do que deveríamos sentir? Ou não achamos nada além da indiferença?
Às vezes, a pergunta pelo amor pode ser apenas um protocolo contra o desespero.
Estamos preparados para pôr em dúvida a normalidade sexual no caso de mulheres que gostam de fazer sexo com cachorros, mas não estamos preparados para suspeitar que grande parte de nosso amor familiar não passe de protocolo social.
Rapidamente, suspeitaríamos que estamos diante de pessoas doentes e sem vínculos afetivos.
Por que, afinal, mulheres homossexuais correm em busca de "misturar" óvulos de uma com a barriga da outra, como se, assim, mimetizassem o coito reprodutivo heterossexual? Será que é amor por uma criança que ainda nem existe ou apenas um desejo secreto de ser "normal"?
Ter filhos é prova desse amor ou apenas um impulso cego que se despedaça a medida que os anos passam?
Um dos nossos maiores inimigos somos nós mesmos, mais jovens, quando tomamos decisões que somos obrigados a manter no futuro. Com o tempo, algo que nos parecia óbvio se dissolve na violência banal de um dia após o outro. Como que diante de um espelho de bruxa.

Wednesday, September 14, 2011

Rebobine, por favor

ANTONIO PRATA



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Se eu batesse as botas agora, meu filme talvez começasse com um momento desses que a gente não se dá conta
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Não acredito em Deus nem em qualquer bônus ou penalidade para além do último suspiro. Como diria meu tio Carlão, botafoguense e, portanto, homem desprovido de ilusões: "Acabou, já era". A frase pode não ser das mais líricas, mas tampouco o é a morte, caro leitor, e envolvê-la em fumos literários serve apenas, como as flores sobre a cova, para disfarçar o mau cheiro que exala do assunto. Melhor é tomar o fim pelo que é: prosaico cessar de reações químicas e impulsos elétricos; bug derradeiro, tão certo quanto irreversível.
Mesmo não tendo a menor esperança de acréscimos ao tempo regulamentar, devo admitir que alimento uma expectativa, não diria "post-mortem", mas "in-mortem": gostaria muito que fosse verdade aquele papo de que, no instante em que se fecham as cortinas, a vida inteira passa na tela do pensamento, em marcha a ré, como uma fita sendo rebobinada.
Tal acontecimento nada teria de metafísico, seria apenas uma reação de nosso cérebro ao apagar das luzes, como um sonho, um delírio. E, como todo sonho, este REM final não primaria pela linearidade, indo de uma ponta a outra de nossa existência aos rodopios.
Se eu batesse as botas agora, meu filme talvez começasse com um momento de prazer corriqueiro, desses de que a gente nem se dá conta, ocupado por alguma tarefa tão urgente quanto desimportante. O calor do sol no rosto, por exemplo, ao abrir a porta pela manhã, para pegar o jornal. O sol, quem sabe, me remeteria a uma tarde da adolescência, na Bahia. O som do mar, a brisa, uma garota me fazendo um cafuné, depois de anos de batalha para que uma garota me fizesse um cafuné -y otras cositas más... Do calor da Bahia ao inverno paulistano, não faz muito tempo: estou sendo apresentado a meu amor. Eu a beijo. Surjo num bar com três amigos queridos, duas e meia da manhã: temos 25 anos e, aos brados, resolvemos todos os problemas da humanidade, anotando as soluções em guardanapos que, logo mais, esqueceremos sobre a mesa. Agora vejo a multidão de cima dos ombros do meu pai, na comemoração de uma vitória do Corinthians, na Paulista. Dou uma cambalhota na piscina de um sítio e a coisa vai ficando abstrata. Há uma sucessão de sabores e cheiros. Boio em brigadeiro, nado em vinho. Refogue alho e cebola, inconsciente! Traga-me uma picanha, exijo cheiro de jasmim! Beatles! Quero ouvir Blackbird mais uma vez! Veja só, minha avó. Três pedaladas na sequência, na bicicleta sem rodinhas. Agora um peito: quando menos espero, surge o útero -e o resto é silêncio.
(Claro, haveria tristezas, também, neste crepúsculo boreal. Pés na bunda ou na quina do móvel, solidão e medo: mas no cômputo geral, uma aflição seria consolada por um pomar, o tédio por um Mark Twain, uma angústia pela visão de minha mulher, de manhã cedinho, passando hidratante nas pernas.)
Talvez, durante esta última sessão de cinema, ter vivido uma boa vida, afinal de contas, fizesse sentido, e o prazer do resumo seria uma espécie de brinde, de bem-casado que se come na saída da festa -mas, infelizmente, não se leva nos bolsos, pois levar é verbo transitivo e mortos, que pena, não transitamos mais.

Monday, September 12, 2011

Marketing Francês

LUIZ FELIPE PONDÉ


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Nada há na Revolução Francesa que remotamente tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade
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A Revolução Francesa (1789-1799) é um fenômeno de marketing. Foi importante para medirmos a febre de um país sob um rei incompetente e não para nos ensinar a vida cotidiana em democracia.
Nada há na Revolução Francesa que tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade. Essas palavras são apenas um slogan que faz inveja a qualquer redator publicitário.
Esse slogan, aliado ao que os revolucionários fizeram (mataram, roubaram, violentaram, enfim, ideologizaram a violência em grande escala), é uma piada.
É uma aula de marketing político: todo mundo cita a Revolução Francesa como ícone da liberdade.
O marketing da revolução ficou a cargo da filosofia. Primeiro caso na história de um fato claramente ideologizado para vermos nele outra coisa. Os "philosophes" do Iluminismo contribuíram muito para essa matriz do marketing político de todos os tempos, a Revolução Francesa.
Começa com a criação da ideia de que existe uma coisa chamada "povo que ama a liberdade" para além da violência que ele representa quando desagradado.
"Povo" é uma das palavras mais usadas na retórica democrática e mais sem sentido preciso.
A única precisão é quando há violência popular ou quando muitos morrem de fome por conta da velha miséria moral humana.
As "cheerleaders" da primavera árabe têm orgasmos nas ruas de Damasco, Trípoli, Cairo e Tunis. Já imaginam os árabes lendo Rousseau, Marx e Foucault (que, de início, "adotou" a revolução iraniana).
Dançam para esses movimentos como se ali não estivessem em jogo divisões religiosas atávicas do próprio islamismo, quase total ausência de instituições políticas, tribalismo atroz, grupos religiosos fanáticos muito próximos do crime organizado, para não falar do óbvio terrorismo.
De vez em quando, o "povo" mata, lincha, violenta e destrói cidades, a casa dos outros e o diabo a quatro.
Mas como (e isso é um dado essencial do efeito do marketing da Revolução Francesa) pensamos que o mundo começou em 1789, achamos que o "povo" nunca destruiu tudo o que viu pela frente antes da queda da Bastilha.
A historiadora americana Gertrude Himmelfarb, em seu livro essencial "Caminhos para a Modernidade", publicado no Brasil pela É Realizações, chama o iluminismo francês de "ideologia da razão", com toda razão.
Os "philosophes" criaram um fantasma chamado "la raison", que seria a deusa dos revolucionários.
Se no plano bruto "la raison" justificaria assassinatos nos tribunais populares (que deixam as "cheerleaders" dos movimentos populares até hoje em orgasmo), no plano sofisticado do pensamento, seria a única capaz de entender e organizar o mundo desde então.
Esse fantasma da "la raison" nada tem a ver com a necessária faculdade humana de pensar para além dos desejos e medos humanos, que é muito dolorosa e rara.
Ela é uma deusa mítica que ficaria no lugar do Deus morto, dando a última palavra para tudo.
Foram muito mais os britânicos e americanos que nos ensinaram a vida cotidiana em democracia. Mas o iluminismo anglo-saxão não foi marqueteiro.
Nas palavras de Himmelfarb, os britânicos, com sua "sociologia das virtudes", buscavam compreender como as pessoas e as sociedades geram virtudes e vícios. Entre elas, a benevolência e o hábito de respeito à lei comum.
Os filósofos americanos criaram uma "política da liberdade", nas palavras de Himmelfarb.
Eles associavam a qualidade de pensadores a de homens políticos práticos que investigavam a liberdade, não como uma ideia abstrata, mas como algo a ser preservado pela lei da tentativa contínua do homem em destruí-la em nome de qualquer delírio.
Daí as instituições americanas serem as mais sólidas, até hoje, em termos de defesa dos indivíduos contra os delírios do governo e do Estado.
Os britânicos e os americanos nos ensinaram a liberdade que conhecemos e que dá a você o direito de dizer e pensar o que quiser nos limites da lei.
É hora de deixar nossos alunos lerem mais Locke, Hume, Burke, Tocqueville, Stuart Mill, Oakeshott, Berlin, os federalistas e antifederalistas, Rawls, Strauss e não apenas Rousseau, Marx e suas crias.

E se o futuro chegasse hoje?

GUSTAVO CERBASI


Esqueça a ideia de poupar para consumir todo seu dinheiro no futuro.
Você já sabe que, para ter as finanças em equilíbrio, precisa poupar parte do que ganha. O motivo para isso? Garantir condições de desfrutar de um futuro que pode não ser tão abastado quanto hoje, ao menos em termos de oportunidades de trabalho.
Pequenas porções de dinheiro plantadas hoje serão multiplicadas por suas escolhas de investimento e podem se transformar no seu ganha-pão de amanhã. Porém você corre o risco de, uma vez motivado a poupar, entusiasmar-se com os investimentos ou com os negócios e, viciado no processo de enriquecimento, esquecer de viver o hoje.
Em minha experiência como consultor, acompanhei diversos casos de consumidores compulsivos que se transformaram em poupadores também compulsivos. Não ganharam nada com isso, apenas trocaram 8 por 80.
Não há vantagem em poupar em excesso, pois assim você abre mão de um nível de consumo e de conforto que pode lhe trazer bem-estar e contribuir para uma benéfica movimentação da economia.
Além disso, de pouco adiantará ter muito dinheiro amanhã se você se acostumar a viver de maneira exageradamente simples. Porém algo deve ser poupado, e seu desafio é encontrar o equilíbrio entre quanto gastar e quanto poupar.
Não estou propondo nenhuma tese nova ao sugerir que você pondere o quanto vale a pena pensar no futuro. Eduardo Giannetti, em seu livro "O Valor do Amanhã" (Companhia das Letras), discute longamente o assunto e nos explica que tendemos a dar maior importância ao presente do que ao futuro.
Não é preguiça ou negligência, mas sim uma defesa natural. Talvez em um nível não muito consciente, nosso cérebro tenta nos convencer de que é melhor gastar nosso dinheiro já.
Isso será verdade, caso uma fatalidade venha a encerrar nossa vida ainda hoje -um risco real que acomete a todos nós.
Porém vivemos também o risco de sermos abençoados pela evolução da medicina e da educação, tornando viável viver por mais tempo do que nossos pais. Se gastarmos demais, nos arrependeremos.
Consequentemente, temos de evitar gastar a ponto de inviabilizar nossa possível sobrevivência por mais de um século, mas também evitar poupar a ponto de nos arrependermos se o futuro chegar para nós cedo demais. Equilíbrio é a palavra-chave.
O ideal é que você gaste com qualidade o quanto pode hoje, e poupe com inteligência o mínimo de que precisa para que seu interessante padrão de consumo não falte amanhã. Isso é bom para você e para toda a cadeia produtiva que é movimentada pelo dinheiro que você põe para trabalhar.
Rico não é aquele que tem um patrimônio inesgotável, mas sim quem obtém satisfação e sentimento de realização durante a maioria dos minutos de seu dia e com a maioria dos reais que consome a cada mês, ao mesmo tempo em que poupa o suficiente para não perder essa prazerosa sensação, se o futuro demorar a acontecer.
Se for um jovem, talvez esse rico tenha poucas reservas financeiras, mas o suficiente para estar bem se mantiver com disciplina seu ritmo de poupança por toda a vida. Se não vier a viver muito, não deixará muito dinheiro, mas terá vivido bem.
Se estiver feliz com seu trabalho e se mantiver poupando por muitos anos, talvez corra o risco de não consumir o dinheiro poupado.
Mas é aqui que cabe o início de outra importante discussão entre os brasileiros: esqueça a ideia de poupar para consumir todo seu dinheiro no futuro!
Se pensar assim, talvez comece a consumir cedo demais, e vai acabar morrendo de ansiedade pelo esgotamento do dinheiro, e não de causas naturais. Não vale o risco.
Poupe o suficiente para ter certeza de que não faltará dinheiro. Se deixar herança, sorte dos herdeiros. Se viver mais, sorte deles também, de contarem com a rica presença de seu ascendente por mais tempo.
Por esse raciocínio, nada traduz melhor o conceito de riqueza do que a segurança proporcionada pela sustentabilidade de nossas escolhas. Pense nisso, ainda hoje.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Investimentos Inteligentes" (Thomas Nelson).

Retrato

Hoje Tetê me trouxe uma lembrança de mim
Memória do meu rosto de menina:
Cabelos repartidos e presos lateralmente
Olhos grandes, longas pestanas
Rosto redondo de anjo
Olhar penetrante, curioso, observador
Tive saudade de mim,
De um tempo que só se foi externamente
Pois continua dentro de mim
Tetê, que mágica você fez!...
Estava tão distraída...
Você me trouxe de volta para mim...

Cecília
11- -09-11