Monday, July 23, 2007

Canção do rio do meio

Um rio jorra entre o porão e o sótão:
leva dores e amores e nosso último riso
há tanto tempo.
Mas numa curva qualquer, porque de novo amamos,
tudo pulsa e brilha de ousadia,
sabendo que temos pela frente
esse calor, esse rumor de águas na areia.

Passa no meio de nós, entre o sonho do sótão
e o medo dos porões, o rio da vida:
que me leve para ti ainda uma vez e muitas,
que venhas até mim antes daquela curva
com a audácia e o fervor que tínhamos perdido.

Lya Luft
Nesta casa escura e fria
só o meu corpo se encontra.
A alma, brinca de faz de conta:
que é dezembro, festa, Natal, casamento
ou que ainda é setembro:
viagem, amigos, uma terra diferente.

Eta, alma besta!
Não se conforma.
Finge que está tudo bem agora
que a vida é cor de rosa,
que tudo de uma maneira
ou outra se resolve.

Mas tem um medo da morte!...
Alma escaldada,
que não quer olhar o passado,
só por falta:
da mãe muito amada, do pai amado,
tanta gente...
Aí: foi só pensar e lá vem
a lágrima quente.
Enfim... só pede um tempo
e segue em frente,
pois como diz o outro:
atrás vem gente...

Cecília