Wednesday, December 09, 2009

Declaração de amor

Carol,
O amor que tenho por você não se explica,
sente-se
Plenamente, sem culpa,
naturalmente
Não importa o tempo curto que passamos juntas,
as diferenças.
Você está em meu coração ... sempre
Amo sua voz, seu sorriso
o dourado que só você irradia
a brancura de sua pele, seu corpo esguio,
os cabelos quase louros.
Amo (não ria) suas pintas, principalmente as do rosto,
aquelas que vejo quando afasto seus cabelos castanhos,
quase louros
Razão para amá-la, tenho todas,
a começar pelo seu coração, tão generoso.
Mas como disse antes, o amor dispensa razões
méritos, explicações, presença física
- às vezes temos tudo isso e não o sentimos,
não adianta esforço.
Filha, para mim você é belíssima
de alma e corpo
o fruto que justifica a árvore,
o meu tesouro

Cecília

Friday, August 21, 2009

Histórias e rituais de família e identidade ( título meu)

[...] QUANDO UMA NOVA FAMÍLIA SE CONSTITUI, UM GRUPO FAMILIAR ORIGINAL PASSA A SER CONSTRUÍDO; ENTRETANTO, ELE NÃO COMEÇA SUA MISSÃO DO ZERO
--------------------------------------------------------------------------------


De vez em quando, surgem palavras ou expressões que viram mania nacional, e muitas delas carregam um complexo conceito teórico de alguma disciplina do conhecimento. Assim foi, por exemplo, com a expressão "quebra de paradigmas", lembra-se dela? Cansei de ouvi-la em escolas.
Muitos professores queriam quebrar paradigmas diariamente -não havia uma reunião em que a expressão não fosse utilizada. Logo percebi que muitos docentes haviam se apropriado apenas do sentido linguístico da expressão e a usavam só para mostrar que estavam devidamente conectados com os estudos da época.
Depois disso, tivemos a época da qualidade total, da resiliência, da sinergia e de muitas outras. Agora, a palavra da vez é sustentabilidade, que tem sido usada das mais diversas maneiras para justificar qualquer tipo de ação, projeto, ideologia etc.
E não é que, recentemente, após uma reunião com pais de uma escola em que o tema foi a importância da transmissão dos valores, dos costumes, das virtudes e da moral familiar na educação dos filhos, uma mãe veio me contar que associara a nossa conversa com o conceito de sustentabilidade?
Devo dizer que, de início, ouvi com preconceito a ideia dela, já que não gosto muito desses modismos conceituais e linguísticos. Mas admito que ela construiu seu pensamento com muita propriedade.
O conceito de sustentabilidade é complexo: diz respeito à continuidade de aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais das diferentes sociedades humanas. Sustentabilidade tem estreita relação, portanto, com preservação.
Quando uma nova família se constitui, um grupo familiar original passa a ser construído.
Entretanto, essa nova família não começa sua missão do zero.
Cada adulto que se propõe a formar esse novo agrupamento leva sua herança familiar e a usa como referência.
Gosto muito da imagem construída por um colega: quando uma pessoa recebe uma casa de herança, ou ela reforma ou vende para comprar outra. O mesmo ocorre com a herança familiar.
Quando duas pessoas vindas de famílias diferentes começam uma nova, negociam, combinam, fazem sínteses do que trouxeram e, claro, inovam também. Além disso, mantêm contato com suas famílias de origem, e é desse modo que as novas gerações se reconhecerão na questão familiar.
Se os pais não transmitem suas tradições e as de suas famílias de origem aos filhos -estimulando o contato entre eles, contando suas histórias, comparecendo aos rituais existentes-, criam uma geração órfã de família. É como se a existência do sobrenome não fizesse sentido, pois não há diferenciação nem características próprias do grupo familiar.
É preciso lembrar que família e sociedade são agrupamentos interdependentes: se um vai mal, o outro também vai. Desse modo, educar os filhos considerando a preservação da família, sua continuidade e manutenção, é trabalhar também a favor da sustentabilidade da sociedade.



Roseli Sayão

Wednesday, August 05, 2009

Em terra árida não nascem flores
Estações se sucedem
E a despeito da rega,
Não se tem nenhum retorno.
A aridez contamina
E a Alma se vê...
Vazia de ardores , amores
Perde-se o sentido da vida
E tudo é cinza, sem cores...

Para meu marido

Cecília
Da vida quero toda a vibração, quero o delírio,
um amor que excite todos os meus sentidos,
mas que tenha na alma seu maior afrodisíaco...

Não esperamos tanto para almejarmos
a sombra de uma árvore,
a contemplação das águas de um regato,
suavemente cumprindo seu caminho,
ou de nuvens brancas no céu deslizando,
a desenhar figuras delicadas...

Não nos satisfazemos mais,
apenas com o etéreo, os mistérios da vida,
os sonhos distantes, a ausência física...

Queremos ser de uma estória de amor
os heróis, os principais protagonistas;
talvez o centro do mundo,
ainda que na visão deturpada
de dois apaixonados...

Que um turbilhão nos engolfe, nos arraste...
É fim de festa, vale tudo: pés descalços
e rostos sem nenhuma máscara...

Cecília Quadros

Saturday, July 25, 2009

Atração

Esquivo é o olhar,
tímido
Poucas palavras,
gestos contidos,
coração meio perdido.
O encanto tem mão dupla?
É pelo outro sentido?
O olhar para mim mesma
é crítico
Interesse do outro?
Impossível
A guardar na memória
a simpatia
e um nome se repetindo
associado à uma figura bonita....

Um leve beijo na despedida
À distância te olho:
fim da história,
que agora recrio...

Cecília

Friday, July 17, 2009

Urubici

Debaixo de muitas mantas
no calorzinho da cama
-está tão frio lá fora-
demoradamente nos olhamos.
A sensação é de aconchego,
pertencimento.
Longe de tudo,
muito além do nosso mundo,
nos acariciamos.
Nos damos as mãos
e nos sentimos seguros,
cúmplices,
contentes por termos caminhado juntos
por tantos anos...
O abraço renova o pacto
há muito tempo firmado.
Brincamos um com o outro,
nenhuma solenidade...
Mas sentimos o marco:
inesperado
naquela cama deitados...

Cecília
14-07-09

Thursday, July 16, 2009

Com poetas não se fala de arranjos terrenos,
mas de vôos de pássaros, flores,
bonecas de louça, versos e estrelas
de madrugadas longas, noites frias
ou manhãs com orvalho, tardes lentas...
de olhares perdidos, apáticos ou apaixonados
ou sorrisos amplos e serenos
( se o Amor é certo e se faz pleno.)

Fala-se de destino, impaciência e desejo
(desse sutilmente),
quando o Amor ainda é mistério ou recente...

É assim que amam os poetas:
sonham, suspiram, tateiam
e tudo é verso,“Festa”e encantamento...
Se do devaneio algo os desperta,
Languidamente vão transpondo
a linha imaginária, que só o sonhador conhece.

Há que se ter paciência com os sonhos, as quimeras,
pois é assim que amam os poetas...

Cecília

Monday, June 15, 2009

Susto
de amar e não ser amada
de deixar a vida passar em branco
de nada realizar
de ser diferente
ter um destino diferente
e não aceitá-lo,
não compreendê-lo
Medo
de a ninguém agradar
de ficar só
eternamente...
de me sentir tão só
que a minha dor pareça
única, total, incurável,
incomunicável
Medo,
que me faz seguir caminhos que não quero
que parece não me deixar escolha
a não ser pretender ser outra pessoa,
mais aberta, mais solta
mais firme em suas escolhas,
tudo entendendo:
o que passou, o que se passa agora;
dona do futuro, da própria vida,
um ser livre, em paz,
vivendo conscientemente...

Cecília

Para tantas pessoas, frágeis em sua humanidade...


15-06-09

Fuga

Não importa o que hoje somos:
se vencedores, perdedores,
seguros, inseguros ou apenas sobreviventes;
se somos ainda bonitos,
se chegamos perto dos heróis românticos
que idealizamos enquanto adolescentes...
Isso não mais importa ...
Não importa o que viveste, o que vivi,
se agora estamos
sedentos de amor e de carinho,
portando um sonho,
que aquece os nossos corações.
O abraço que nos damos é pura ternura,
um tocar de almas só possível
por jamais termos perdido a esperança de amar
e sermos amados
de dar e receber carinho
este tão sonhado, almejado,
difícil, e até então negado carinho,
presente agora em nossas mãos se entrelaçando,
enquanto viajamos...

Cecília

Tempo

Traço linhas paralelas imaginárias
Em cada uma visualizo uma figura humana
em diferente fase da vida
Todas na mesma direção
A esperá-las: chi lo sa?
Nessa linha do tempo não há volta nem antecipação
(Não posso voltar e te abraçar, mãe...)

Vida
Para a vida desenho um círculo,
abarcando até quatro gerações.
Para o outro alcançar é só estender a mão
(talvez isto explique nossa forte ligação)


Agora, a contragosto, coloco o círculo na linha
E lá vai ele de roldão: trilhando todo o caminho
que leva... ao ponto de interrogação...

Cecília

Thursday, May 14, 2009

A respeito de ausência e de sonhos

Me dei um tempo
E saí em busca de mim
Encarei meus defeitos
Me enfrentei face a face
Acertei rumos e passo
Não sou mais barreira pra mim.


Meus fantasmas transformo em palavras
Abrigo-os em versos, dou-lhes espaço
E me liberto da inquietação que me passam...


Meu sonho não tem um nome, uma forma, um endereço
Meu sonho não é de glória, não é um homem,
É ter com o que sonhar a minha vida inteira...


O Esfarrapado e o Roto

Juntamos:
A fome com a vontade de comer
A imaginação com o sonho,
Fugas, com pé na estrada
Somos o roto e o esfarrapado...

Trilhamos caminho certo,
mas deixamos uma fresta aberta
E para que não falte tesão...
damos asas à imaginação.

Seremos santos de barro?
Ou se prefere do pau oco...
Mas levamos afeto à sério
e não causamos desgosto...

Escapo... também escapas...
Ousamos?Até que bem pouco
Sonhamos de olhos abertos
Pois somos feitos da mesma matéria,
o esfarrapado e o roto...


Preço

Ninguém tira os pés do chão e voa impunemente
O preço... vale a pena?
Vale viver outra vida, à perfeição retocada,
Colorido filme em que somos protagonistas,
Vale brincar, esculpir imagens, criar roteiros,
Vida paralela ocupando da realidade quase todo o espaço?

Cecília


Ilusões

Não deveria ficar nada...
Ilusão não mata
Nem faz tanto estrago
Nada que um gesto leve não afaste

Fantasias são breves, leves
Chegam, afagam,
Inspiram às vezes versos
E partem

Outras vêm, burlam vigilância,
Cuidado.
Pegam a alma desavisada,
Entediada
E se instalam,
Dando uma falsa sensação
De perene felicidade.
Mas são volúveis, frágeis
E como nuvens se esvaem...

Não era para ter ficado.... nada...

Cecília


Sonho e Vida

Vida é sonho
Os meus procuro ansiosamente
- questão de sobrevivência -
Na pressa os perco, os esqueço
E fica um vazio de assustar
Reajo, encontro uma possibilidade,
Nela me agarro, me distraio.
Aos poucos os outros vou recuperar...

Beijo na boca

Desejo...
Fantasia travessa
Atravessando limites
Se impondo, apesar do medo

Beijo
Maroto, brejeiro
Doce, certeiro
Sonhado
Só um beijo...
Só?
Mas... se desencadeia
uma onda de desejos?

Contida,
Não deixo que nada percebas
Meu desejo adormeço,
Nem olho para tua boca,
mas em sonhos... te beijo

Louca!...


Sonhos são sonhos
Realidade é realidade

Sonho realizado: não é o mesmo sonho.
A realidade já deixou nele sua marca.
Preenche por um tempo, curto tempo,
até que a eterna insatisfação do homem,
lhe cave no peito novo buraco,
e outro sonho tenha que ser sonhado.

Aí é pôr asas no coração,
se abrir para nova emoção
E curtir outra vez desejo,
Ainda com maior grau de intensidade...



O que será que existe....


Fora desse círculo
Além daquela porta
Lá, onde o olhar não alcança
Lugares em que nunca estive
Rostos desconhecidos
Imagino...
Mas não me imagino
por outras terras vagando
Uma outra vida vivendo
Em outras águas imergindo...

Cecília
após longa ausência

Friday, May 08, 2009

Sim, aparência importa

Pam Belluck

Há mais de uma semana, pessoas em ambos os lados do Atlântico têm usado a história de Susan Boyle - a solteirona escocesa desleixada que chegou à fama cantando no programa de TV "Britain's Got Talent" - como um exemplo de quão superficiais nos tornamos.
Não há muito o que você possa fazer a respeito; é o modo como pensam; é o modo como são disse Susan Boyle, comentando a rapidez com que a sociedade julga as aparências. Antes de cantar, Boyle parecia uma mera voluntária de igreja desempregada e desmazelada de 47 anos que morava sozinha com seu gato, Pebbles, e que, segundo ela, nunca teria sido beijada (uma alegação que ela posteriormente retirou).Agora, após o vídeo de sua apresentação ter se tornado viral, uma enxurrada de comentários se concentra em como estereotipamos as pessoas em categorias, como caímos vítima de preconceitos de idade e aparência, e como temos que aprender, de uma vez por todas, a não julgar os livros pela capa.Mas muitos cientistas sociais e outros que estudam a ciência dos estereótipos dizem que há motivos para avaliarmos rapidamente as pessoas com base em sua aparência. Julgamentos rápidos a respeito das pessoas são cruciais para o modo como funcionamos, eles dizem - mesmo quando esses julgamentos são muito errados.Eles até mesmo concordam com a própria Boyle, que disse após sua apresentação que apesar da sociedade ser rápida demais em julgar as pessoas pela aparência, "não há muito o que você possa fazer a respeito; é o modo como pensam; é o modo como são".Em um nível muito básico, julgar as pessoas pela aparência significa colocá-las rapidamente em categorias impessoais, assim como decidir se um animal é um cachorro ou um gato. "Estereótipos são vistos como um mecanismo necessário para entendimento da informação", disse David Amodio, um professor assistente de psicologia da Universidade de Nova York. "Se olharmos para uma cadeira, nós podemos categorizá-la rapidamente, apesar de existirem muitos tipos diferentes de cadeiras."Eras atrás, esta capacidade era de uma importância de vida ou morte, e os seres humanos desenvolveram a capacidade de avaliar outras pessoas em segundos.Susan Fiske, uma professora de psicologia e neurociência de Princeton, disse que tradicionalmente, a maioria dos estereótipos se divide em duas dimensões amplas: se a pessoa parece ter intenção maligna ou benigna e se a pessoa parece perigosa. "Em tempos ancestrais, era importante permanecer distante de pessoas que pareciam furiosas e dominadoras", ela disse.As mulheres também são subdivididas em mulheres "tradicionalmente atraentes", que "não parecem dominadoras, têm traços de bebê", disse Fiske. "Elas não são ameaçadoras."De fato, a atração é uma coisa que reforça o estereótipo e faz com que se cumpra. Pessoas atraentes têm "crédito de serem socialmente hábeis", disse Fiske, e talvez sejam, porque "se uma pessoa é bonita ou simpática, as outras pessoas riem das piadas dela e interagem com ela de uma forma que facilita a interação social"."Se uma pessoa não é atraente, é mais difícil conseguir todas estas coisas porque as outras pessoas não a procuram", ela disse.A idade também tem um papel na criação de estereótipos, com as pessoas mais velhas tradicionalmente vistas como "inofensivas e inúteis", disse Fiske. Na verdade, ela disse, as pesquisas mostraram que os estereótipos raciais e étnicos são mais fáceis de mudar ao longo do tempo do que os estereótipos de gênero e idade, que são "particularmente aderentes".Um motivo para nosso cérebro persistir em usar estereótipos, dizem os especialistas, é por frequentemente nos dar informação precisa de modo geral, mesmo que nem todos os detalhes de encaixem. A aparência de Boyle, por exemplo, telegrafou precisamente grande parte de sua biografia, incluindo seu nível socioeconômico e falta de experiência mundana.
"Britain's Got Talent"
Seu comportamento no palco reforçou uma imagem de pessoa de fora. David Berreby, autor de "Us and Them", sobre o motivo das pessoas categorizarem umas às outras, disse que os telespectadores também podem tê-la julgado severamente porque, nas provocações com os juízes antes de cantar, ela parecia estar, desajeitadamente, tentando se encaixar."Ela tentou ser divertida, e quando lhe perguntaram a sua idade, ela fez aquela dancinha", como se ela presumisse que nesses programas "você supostamente precisa ser meio sensual e elegante, mas se deu mal", disse Berreby. "Nada provoca mais nosso desprezo do que alguém tentar ser aceitável e então fracassar."Quando as pessoas não se encaixam em nossas noções pré-concebidas, nós tendemos a ignorar as contradições, até serem dramáticas demais para ignorar. Nestes casos, disse John F. Dovidio, um professor de psicologia de Yale, nós nos concentramos na contradição - a voz de Boyle, por exemplo. Apesar disso nos fazer vê-la mais como um indivíduo, nós também "encontramos uma forma do mundo fazer sentido de novo, mesmo que para isso digamos: 'Esta é uma situação excepcional'. É mais fácil para mim manter as mesmas categorias na mente do que chegar a uma explicação para as coisas que são discrepantes".Mesmo diante de múltiplas exceções ao estereótipo, nós frequentemente mantemos a categoria geral e simplesmente criamos um subtipo, disse Dovidio.Por exemplo, o presidente Barack Obama contrariou os estereótipos negativos a respeito dos negros, mas algumas pessoas podem ter criado um subtipo de negros - profissionais negros - em vez de contestar o estereótipo geral, disse Dovidio. "Esta é a solução mais simples e que economiza energia cognitivamente."Os cientistas estão descobrindo que os estereótipos não estão simplesmente armazenados no cérebro e são recuperados por ele, mas "estão associados com regiões gerais do cérebro envolvidas na memória e no planejamento de metas", disse Amodio, sugerindo que "as pessoas recrutam estereótipos para ajudá-las a planejar um mundo consistente com a meta que possam ter".A pesquisa de Fiske sugere que as pessoas de status baixo são registradas de forma diferente no cérebro. "A parte do cérebro que normalmente é ativada quando você pensa em pessoas fica surpreendentemente silenciosa quando você olha para moradores de rua", ela disse. "É uma espécie de desumanização neural. Talvez não consigamos suportar a situação horrível em que se encontram, ou não queiramos nos envolver, ou talvez tenhamos medo de nos contaminar."Mas, ela disse, a resposta neural é restaurada quando é pedido para as pessoas se concentrarem em que sopa os moradores de rua possam querer comer, algo que as faz pensar na pessoa como alguém com desejos ou metas.
O fato de podermos mudar nossas reações em relação às pessoas - o status de Boyle passou instantaneamente de baixo para alto - também tem raízes em nossa psicologia, disseram os cientistas.Dovidio disse que encontrar discrepâncias nos estereótipos provavelmente "cria um tipo de estímulo autonômico" em nosso sistema nervoso periférico, provocando picos de cortisol e outros indicadores de estresse. "O estímulo autonômico nós motivará a fazer algo naquela situação", ele disse, especialmente se a situação é perigosa.Helen Fisher, uma professora de antropologia da Rutgers, teoriza que no caso de Boyle, os telespectadores também passaram por uma "onda de dopamina" com a surpresa agradável de ouvir a voz dela. "A novidade aumenta a dopamina no cérebro e faz você se sentir bem", ela disse.Isto pode ajudar a explicar por que tantas pessoas foram atraídas pela história de Susan Boyle. Mas o fato de aceitarem a ela e outros azarões subestimados dificilmente mudará nosso gosto pelo estereótipo.A sociedade moderna, com sua consciência dos preconceitos ao longo da história e sua capacidade sem precedente de apresentar tantos tipos diferentes de pessoas umas às outras, pode diluir ou mesmo neutralizar algumas noções pré-concebidas. Mas outras persistirão e novas surgirão, dizem os especialistas.Este pode ser o motivo para, mesmo após ter expressado a esperança de que "talvez isso possa tê-los ensinado uma lição, ou dado um exemplo", Boyle ter começado a mudar sua aparência nos últimos dias, usando maquiagem, tingindo seu cabelo grisalho e vestindo roupas mais elegantes."A matéria-prima de dizer que você está comigo e ela não está é algo que está sempre presente", disse Berreby. "Não é algo que inventamos por causa da TV ou do carro. Também não é algo ligado à vida moderna. É algo inerente à mente."Tradução: George El Khouri Andolfato

Artigo publicado pela "Folha de São Paulo"após ter saído no New York Times

Friday, March 20, 2009

Atravesso portas e mais portas
Percorrendo curiosa empoeiradas áreas,
Prolongamento desconhecido da minha própria casa.
Por que só agora o acho?
- Sensação de desperdício de tempo e espaço...

No sonho
as portas que nunca abri,
Os mistérios que não tentei desvendar,
Tudo o que podia e não tive ousadia para conquistar...

Cecília Quadros

Tuesday, March 10, 2009

Tenho gana de vida
Se adoeço, me trato
Se caio, me levanto rápido
Se a tristeza me prende, escapo
Não me importam as muletas,
desde que suportem meu peso
pois liberam minha alma,
deixando-a inteira,
livre para a felicidade.
Venço desânimo, distância,
Tudo em nome da afinidade...
Vivo o dia de hoje
não por desapego ao passado,
desencanto ou desesperança.
Só não quero desperdício,
jogar fora um momento
sequer da minha vida.
E assim vou levando,
mais do que sendo levada:
vivendo meu tempo, meu momento,
minha hora... que de resto,
queira ou não queira,
um dia vou ter que ir embora.
Passo eu, passa a vida,
e tudo o que foi,
não será senão história...

Cecília

Friday, March 06, 2009

Quando o inverno chegar

Para esconder a realidade da velhice, diz-se, elegantemente, que se trata de uma pessoa "idosa" ou da "terceira idade"
EU ESTAVA ASSENTADO no palco e observava o auditório lotado. Muitas cabeleiras brancas, muitas cabeleiras grisalhas e muitas calvas brilhantes. Era um público de gente velha. Estavam lá para me ouvir. Havia sido anunciado que eu faria uma fala sobre a terceira idade. Mas eu teria preferido que tivessem anunciado uma conversa sobre velhice... Acho a palavra "velhice" mais poética que a expressão "terceira idade"...Mas essa palavra "velhice" não aparecia no convite. A "linguagem politicamente correta" a havia proibido. Referir-se a alguém como um "velho" era grosseria, ainda que ele ou ela, por força dos anos já vividos, fosse na realidade um velho. Por vezes, a realidade ofende e é preciso criar máscaras e disfarces para escondê-la. Para esconder a realidade da velhice, diz-se, de forma elegante, que se trata de uma pessoa "idosa" ou da "terceira idade".Eu não me considerava idoso e nem me colocava dentro do conjunto da terceira idade, muito embora um repórter de um jornal da minha cidade tenha chamado de "ancião" um senhor de 50 anos que fora atropelado. Segundo os critérios desse jovem, se eu fosse atropelado seria imediatamente promovido à categoria de "ancião"...Feitas as introduções e apresentações preliminares, chegou a minha vez. Fiz silêncio. Olhei demoradamente para os idosos que esperavam de mim um elogio à terceira idade e comecei:"Então os senhores e as senhoras chegaram finalmente a esse glorioso momento da sua vida em que podem se entregar à felicidade de serem totalmente inúteis...".Aí aconteceu o que eu sabia que aconteceria. Não me deixaram continuar. Fui imediatamente interrompido por protestos indignados. Todos queriam provar a sua utilidade. Um dos idosos contou sobre a sua horta. Um senhora descreveu as colchas de retalhos que fazia. Um outro contou sobre o hobby que desenvolvera fazendo brinquedos artesanalmente...Deixei que falassem à vontade. Eu os havia provocado de propósito. Falavam movidos pela ideologia da nossa sociedade, que julga as pessoas da mesma forma como julga as lâminas de barbear, as esferográficas e os filtros de café...Uma lâmina de barbear rombuda, uma esferográfica esgotada, um filtro de café usado deixaram todos de ter utilidade e vão para o lixo. O mesmo acontece com os seres humanos que deixaram de ser úteis.Esgotada a indignação contra mim, acalmados os ânimos, a palavra me foi devolvida: "A Nona Sinfonia de Beethoven é absolutamente inútil. Não há coisa alguma que se possa fazer com ela. Mas uma vassoura, ao contrário, é muito útil. Serve para varrer, tirar o lixo, eliminar as teias de aranha... Vocês estão me dizendo que preferem a vassoura útil à Nona Sinfonia inútil...Vejam esse poeminha da Cecília Meireles: "No mistério do Sem-Fim equilibra-se um planeta. No planeta, um jardim. No jardim, um canteiro. No canteiro, uma violeta. E na violeta, entre o mistério do Sem-Fim e o planeta, o dia inteiro, a asa de uma borboleta".Prá que serve esse poema? Prá nada. É inútil. Já o papel higiênico é muito útil... Vocês estão me dizendo que, no seu julgamento, o papel higiênico vale mais que o poema...Repentinamente os rostos indignados se abriram em sorrisos. E aprenderam a sabedoria dos poetas e artistas, tão bem resumida no aforismo de William Blake: "No tempo de semear, aprender. No tempo de colher, ensinar. E quando o inverno chegar, gozar...".

Rubem Alves

Wednesday, March 04, 2009

Voltei

Deixei minha camisola sob o travesseiro,
o livro de versos na mesma prateleira,
e é como se nunca tivesse partido.
Não quebrei todos os laços,
preservei o meu espaço,
só não estou mais dividida.

Quero diante do espelho
me ver, corpo desnudo
esquadrinhando meu rosto,
analisando meu corpo,
atrás das marcas da vida,
e daquela paixão... finita,
que foi céu, inferno, estorvo.

Despida a veste bonita,
tal qual vestido de noiva,
fica a mulher, mãe, esposa,
e a poesia sem asas, sem vôos...


Cecília

Inquietação

Hoje não sei se gosto, se não gosto,
de quem gosto
Se vou, se não vou, se escrevo, se leio,
se ando, me deito, se saio ou se fico,
com quem saio, com quem fico,
se choro, se rio, se me explico,
se me entendo, se me ignoro,
se me contenho.
Não sei o que faço de mim mesma,
que hoje para mim eu sou só peso,
sem o outro ver e sem nenhum espelho...

Cecília Quadros

Saturday, February 14, 2009

Regressarei

Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas

Sophia de Mello Breyner Andresen

Wednesday, February 11, 2009

Carinho Inesquecível

Nós dois, camas separadas
em quarto tão simples... na praia
estendendo os braços
nos dando as mãos...
Era verão?
Quantos filhos tínhamos?
Nem tudo era paz...
Mas...
No gesto espontâneo,
tanto carinho,
que a memória
envolve, guarda, eterniza...


Cecília
16-01-03

( Fomos tão felizes...)

Tuesday, February 10, 2009

O Último Retalho

Aqui termina o livro.Uma colcha de retalhos, como diz o título. Fala a correr do menino da "tia"Judite, todo ele em estilo coloquial, de quem está conversando com ele próprio. E havia tanto a falar desse tempo. Fala de Lisboa, também correndo, como se quisesse chegar depressa a algum lugar. Acho que fui sempre assim na vida.
Vivendo os momentos, como se a vida fosse terminar no outro dia. Com a intensidade possível; como alguém que espera um sonho maior ao acordar no dia seguinte. E o encontra e o realiza com toda a paixão e fogo de que é possuidor, mas também com a pressa urgente de chegar ao sonho novo, que o amanhã lhe trará.
Fui assim com tudo. Odiando o tédio da coisa repetida; procurando em cada dia a garantia de um amanhã diferente. E talvez só isso possa explicar o porquê de tantas testemunhas, presenças na minha vida.
É a outra imagem de mim, a que me habituei a chamar de Marcos Leal. Poeta, caçador de sensações. Que é feliz hoje em África, enquanto sonha estar amanhã no outro lado do mundo. Que viveu correndo, sem se fixar a coisa nenhuma, nem a ninguém.Esse é que foi o que amou as tempestades, que ia sempre procurar mais longe. Sofrendo com a dor de perder o amor que sentia, mas que partia à procura do amor que adivinhavaestar esperando por ele, no dia seguinte.
Talvez fosse ele que devesse ter escrito a história da sua vida e não eu. A vida dele foi sem dúvida mais interessante, mais cheia de aventura, mais cheia de mulheres bonitas. Enquanto eu, sou um chato. Que ama seus amigos com uma imensa devoção. Que ama a sua família e é fiel a quem ama. Que ama a Pátria onde nasceu um dia, e tudo faz para a honrar e engrandecer, onde quer que esteja.
O Marcos Leal não tem família e não tem Pátria. Ama a quem ama, com imensa intensidade. e se ama a Portugal, da forma como ama, não é porque o sinta Pátria, mas porque o sinta amante. E a família é para ele só e exclusivamente cumplicidade Eu que me preocupe com as regras do não mentir, do cumprir tudo o que se promete, de não falhar com os amigos, de estudar, de ler, tomar banho todos os dias, tirar os cotovelos de cima da mesa às refeições. A relação dele com os filhos é só cumplicidade.
E foi, nesta dualidade entre a responsabilidade e a procura, que fui percorrendo a estrada que estava à minha espera, desde o princípio do sonho e da vida. Com altos e baixos, como costuma acontecer com as estradas. Mas também com muita coerência.
_ Se fui feliz? Se ser feliz é juntar todos os momentos de felicidade, então eu diria que sim; fui muito feliz. Fui feliz, até, quantas vezes, na própria dor, já que até para ser feliz é preciso ter vocação. Todos nós conhecemos pessoas que já nasceram com 200 anos de idade, incapazes de sonhar ou realizar coisas novas. Que se sentam a uma mesa na noite de Natal e começam: - "Será que o peru não vai fazer-me mal? E essa fafofa, não irá provocar-me azia?"
São todos aqueles que toma calmante na noite de núpcias, com medo de ter insônia. Não poderão ser felizes nunca, até porque lhes falta vocação.
A minha mãe é que estava certa:
_ Filho, agradece sempre a Deus o teres nascido. Ele foi tão bom para ti.
E foi.

Rodrigo Leal Rodrigues

( aquele que não canso de homenagear - Cecília)

Monday, February 09, 2009

Metamorfose

Por que os clássicos são pessimistas? Seria o trágico uma moda? Três mil anos de moda?
AO SER indagado se não tinha esperanças, Kafka disse, "esperanças há muitas, mas não para nós". Janouch narra um dia em que ele, com 20 anos, disse a Kafka, então com 40, "hoje não estou entendendo nada do que você diz". Kafka respondeu "deve ser a misericórdia de Deus, porque sendo você jovem, e estando eu hoje pessimista, se você me entendesse, você ficaria mal". Confessa: "o pessimismo é meu pecado".Por que os clássicos são tão pessimistas? Seria o trágico uma moda? Três mil anos de moda? Improvável. Na sua coluna de 21 de janeiro, meu colega ilustrado (velha piada entre nós) Marcelo Coelho critica "meu" pessimismo. Colunistas que "matam a esperança" são supérfluos. O bom jornalismo opinativo é pautado pelo conflito de ideias, por isso, agradeço suas críticas. Ele acha que ao duvidar do Iluminismo reforço forças regressivas na experiência humana. Eu penso que o Iluminismo é que é regressivo porque caminha sobre fantasias enquanto os homens caminham sobre tumbas. Nós modernos somos a raça mais covarde que caminhou sobre a Terra. Não escrevo para tornar a vida do meu leitor melhor. Escrevo e leio para não me sentir só. Quando olho os "avanços" da nossa minúscula história, penso: como nos verão em mil anos? Como a decadência do século 17? Rirão de nós porque demos direitos aos ratos, enquanto fizemos dos bebês lixo reciclável pelo direito de gozar mais? Respondo a pergunta "o que eu acho da Revolução Francesa?" com "ainda é cedo pra dizer qualquer coisa". Imaginem dois africanos no século 19. Um vende o outro como escravo (negros vendiam negros). O escravo é levado para os Estados Unidos e lá sofre todo tipo de horror da escravidão. O outro fica livre e feliz na África. Adiantem o filme. O bisneto do escravo mora nos EUA, casa na praia, filhos na faculdade, e a esposa, bisneta de outro escravo, médica de sucesso. Voltem pra África. Muitos bisnetos do que ficou lá continuam a viver em seus buracos, matando-se do mesmo jeito (como acabou a escravidão, perderam a chance de vender seus "irmãos"). Famílias afundam na miséria. Qual é a moral desta história? Que a escravidão foi uma bênção para os afro-americanos porque os levou para os EUA? E a liberdade do outro, a maldição de seus bisnetos? Os afro-americanos, que hoje celebram a vitória do Obama, depois de muito sofrimento, diriam "ainda bem que nossos bisavós foram escravos"? Não! A escravidão é um horror. A questão é outra: qual o sentido da história humana? Nenhum. A história não é a luta entre a luz e as trevas. Não porque elas não existam, mas porque não sabemos identificar, com o microscópio das ideias claras e distintas de que dispomos, a trama infinita de suas relações. Um homem faz o que pode em meio a opacidade do mundo. Meu pecado é não fazer o marketing da democracia de massa. Falsos sentimentos são comuns nos homens, logo, quanto mais homens, maior a chance de mentira, por isso desconfio de bons sentimentos em grandes quantidades. Mais? Os índios não vivem em comunhão com a natureza, apenas ficaram na idade da pedra em técnicas de domínio da natureza, como muitos africanos que ficaram na África. A ciência e a política tampouco fazem os homens melhores. O mundo não é dividido entre elite má e pobre bom. Se a elite é cruel, o povo é violento e interesseiro. Os homens não são iguais, alguns são melhores. A igualdade ama o medíocre. É mentira que todo mundo possa julgar as coisas por si só. A propaganda desta mentira gera uma horda de invejosos que sonham em destruir quem eles julgam livres. Supérfluo? Mentira. Num mundo parasitado pelo marketing como forma de vida, ser pessimista é um método. Não se trata de dizer morbidamente "o mundo é mau", mas reconhecer que no humano a verdade é uma ferida incurável. A esperança que conta é a do animal ferido. Nada disso implica concordar com crianças mortas. O debate ao redor da esperança não é um problema do quão otimista somos, mas o que em nós nos faria colaborar com nazistas na França ocupada, além do medo. Manter o emprego? A chance de destruir alguém melhor do que eu? Tomar a mulher de alguém? Promoção pessoal? Nada mais banal, nada mais humano. Na "Metamorfose", Gregor Samsa, agora uma barata, vê a delícia que é caminhar de cabeça pra baixo com suas perninhas coladas ao teto. Sente-se finalmente feliz. A barata é a otimista em Kafka. luiz.ponde@grupofolha.com.br

Luiz Felipe Pondé

Sunday, January 25, 2009

O Poema

O poema é fruto de uma inquietação,
que no peito parece não caber
de uma vontade incontrolável de escrever
de sentimentos que não só o seu criador espelham,
pois vêm do âmago, de sua condição humana,
voz da alma se tornando;
sensibilizando com palavras instintivas,
mas com esmero distribuídas - substituídas se preciso -
para que sejam verdadeiros e belos os versos,
cativando, retendo a emoção por algum tempo...


Cecília

Tuesday, January 06, 2009

Em teus braços

quero viver toda a delícia deste amor antigo
a plenitude deste sentimento único
o prazer de ter à flor da pele os meus sentidos
de me sentir ausente e tão dentro deste mundo...

União completa: concreta, mas permitindo vôos
- pois sou poeta -
só que daqui pra frente, prometo, te levando junto...

Cecília

Saturday, January 03, 2009

Alternância

Quero me livrar de todos meus demônios,
tirar de mim tudo o que minh’alma angustia:
pensamentos e lembranças hoje em preto e branco,
refletindo só o meu lado negativo.

Não sei se dou um tempo e hiberno,
para acordar depois em plena primavera,
pois sei que esta é a dança do universo,
sol brilhando depois de rigoroso inverno.

Cecília