Tuesday, January 30, 2007

Solidão

Sou tão tu, és tão eu
que te parece
a solidão a minha companhia;
minha voz é tua idéia em melodia;
meu gesto teu desejo em atitude;
se o amor não nos tornou
a ambos perfeitos,
adquiriste todos meus defeitos,
cheguei a assimilar tua virtude.

Sou tão tu, és tão eu que, inutilmente,
procuro uma aparência diferente
para atrair teu ausente olhar:
Teus olhos me olham
para além de minha forma
e estão exautos
de minha alma contemplar.

Sou tão tu,
és tão eu,
de tal maneira
do afeto o mimetismo nos iguala,
que é uma inutilidade
nossa fala,
e em vão,
tentamos a conversação:
ouvimos mutuamente o pensamento,
não nos restando para tanto tédio,
o supremo remédio
da traição.

Sou tão tu,
És tão eu,
sinto-te preso
a mim
como a alma à carne,
a idéia à mente,
preso, mas numa ausência de desprezo.

Sou tão tu, és tão eu,
somos iguais
de tal maneira,
que já nem percebes,
quando vens para mim,
quando de mim te vais.

Nossas horas de união
se fizeram tão tristes
que a elas me vem a sensação do nada,
que às vezes tão angustiada,
quisera ser por ti brutalmente espancada;
quisera te ferir
para saber se existes.

Oh! tortura do sonho realizado!
Assim juntos estamos tão sozinhos,
como se nunca
nos houvéssemos
encontrado.

Gilka Machado

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