Thursday, September 25, 2008

Andréa, Dedé para todos

Vinte e sete anos eu tinha.

Hoje em dia diriam: “É uma criança!”

Atualmente as meninas casam-se mais tarde mas naquele tempo, há 40 anos, casávamos cedo e logo pensávamos em filhos. E foi assim que eu fiz...

Aos 26 anos eu já tinha 2 filhas: a Patrícia com 2 anos e meio e a Daniela com 9 meses.

As duas lindas, espertas e inteligentes alegravam e ocupavam os meus dias.

Em agosto ou setembro de 1975 veio mais uma surpresa: outra gravidez.

Que alegria! Apesar de não programada...

A gestação correu maravilhosamente bem, sem problemas, assim como foram as anteriores. Sem os modernos aparelhos de ultrassonografia não se percebeu que eram 2 bebês o que só foi visto 15 dias antes do parto.

Alegria dobrada, saímos à correria para comprar outro enxoval, outro berço, outro tudo.

10 de maio de 1976 nasceram Persinho e Andrea, duas lindas crianças que viriam completar meu time de quatro filhos, sempre desejado.

Os dias se passavam e era inevitável a comparação entre os gêmeos e as infinitas perguntas sem resposta.

“- Por que o Persinho sustenta a cabecinha e Dedé ainda não?”

“- Por que um já sabe sentar-se o outro não?”

E por aí sucederam-se milhões de dúvidas...

Um dia perguntei ao médico dela o que seria da minha filha no futuro. A resposta foi imediata: “- Eu não sei o que vai ser dos meus filhos, como saber da sua?”

Bem, não adianta ficar perguntando. Sempre fui uma pessoa ativa, decidida e disposta a enfrentar qualquer batalha e aí vinha uma daquelas...

Meus dias alternavam-se entre buscar um diagnóstico e independente de tê-lo, fazer terapias.

Com a ajuda da Andrea, sempre disposta, fomos caminhando pelas diversas formas de atividades: fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, natação, reorganização neurológica, equoterapia, enfim, tudo o que nos era sugerido.

Dedé começou a andar com 3 anos e aos 4, entrou na primeira escola (sempre optei por escolas especializadas). Mesmo antes de aprender a falar, o que aconteceu aos 5 anos, as professoras iam ensinando-lhe as letras e números. Assim, bem lentamente, ela foi aprendendo a construir frases na fala e na escrita, simultâneamente.

Quando eu percebia que o assunto estava esgotado numa escola, mudava para outra. Rotina não podia existir na vida de Dedé. Tudo tinha de ser mudado periodicamente para haver motivação. Eu percebia que a cada mudança acontecia um salto na evolução da minha pequena.

De escola em escola, acabamos conhecendo o PTI que foi o grande salto na vida dela. Aqui ela amadureceu, encontrou amigos que a compreendem, namorados e professores que lhe dão carinho, atenção e a orientam para uma vida profissional, já que esse era um grande sonho pois a colocava em pé de igualdade com os irmãos já bem sucedidos profissionalmente.

Com a persistência da Carmen Lydia em incluir os alunos do PTI na lei 8.213, “Lei de Cotas” e no projeto “SOMAR”, a Andrea acabou sendo uma das escolhidas para fazer entrevista no Citibank.

Toda arrumadinha, lá foi ela como uma verdadeira executiva, fazer testes e mais testes. Para a alegria dela, da família e dos professores, ela foi aprovada e desde dezembro de 2007 é uma respeitada e competente funcionária do Citibank.

Mas a busca pelo diagnóstico continuou e numa segunda feira, dia 18 de agosto de 200 graças ao avanço da tecnologia e às pesquisas do Instituto de Genética da USP conseguimos o que tanto queríamos: “a Andrea é portadora de uma síndrome chamada MONOSSOMIA 1P36”. É um acidente genético, que só foi identificado pelos cientistas em 1999 ou começo de 2000. O caso dela é bem leve e ao estudarmos a síndrome, percebemos que tudo o que deveria ter sido feito na infância, juventude e adolescência, foi exatamente o que fizemos. Para o futuro, também nada mudará.

Hoje, com 32 anos, Dedé superou todos os seus limites e desafios. É feliz e realizada. E eu, como mãe, mais ainda...

Selma Deluca

No comments: