Sunday, December 10, 2006

A jangada

Te vejo
Linda, simples, vela estirada pelo vento,
exibindo singelo desenho: mulher em vermelho.
É teu descanso e na praia permaneces.
Cheiras a mar, madeira, suor dos homens que te manejam.
Te abres para mim e me surpreendo com o exíguo espaço
em que descansam teus marinheiros:
tosco, suficiente apenas para um sono rápido
antes da volta ao trabalho, a busca pelo peixe
-de vigília fica sempre um jangadeiro
a zelar pelo sono dos companheiros.
Descansam confiantes,
pois já leram o céu, as nuvens e as estrelas.
Depois é revezar, voltar a pescar,
reparar, remendar, trabalho árduo, solidário,
protegido pela reza das namoradas ou companheiras.
Sei que quando chegam e os peixes descarregam
agradecem a Deus a sobrevivência,
a boa pesca, e o seu quinhão nas vendas,
pois a jangada, com amor guiada mar adentro
quase sempre não lhes pertence...

Fim de tarde,
Vela com destreza enrolada,
Mãos rudes, pele maltratada
Não sei o que mais me toca
Se o pescador ou a jangada...

Cecília

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