Wednesday, November 17, 2010

Cômico? Triste? Espelho de nossos dias

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Geisy na roda
SÃO PAULO - Levou um ano para que a roda da fortuna desse a volta completa no caso Geisy Arruda.
No final de outubro de 2009, ela foi alvo do acesso de fúria dos colegas. Teve que ser retirada da Uniban escoltada, sob humilhações e ameaças de estupro. O vestidinho, as alegações machistas de que a jovem se insinuava -tudo serviu de pretexto para respaldar a barbárie. A universidade decidiu expulsá-la, em nome do "ambiente escolar".
Estava anunciado para ontem o lançamento de "Vestida para Causar", uma biografia precoce de Geisy, 21 anos. Seu produto mais falado, no entanto, é o ensaio de capa para a revista "Sexy", que vai batendo recordes de vendas.
Com o sucesso, Geisy se vinga da sociedade (e da universidade) que a ultrajou; a sociedade, por sua vez, usa o sucesso de Geisy como oportunidade para reafirmar preconceitos que tinha desde o início sobre ela -e assim também se vinga.
Humilhação social e ascensão social não são antagônicos, mas estão misturados e submetidos à mesma lógica fulminante neste caso. Geisy parece protagonizar uma espécie de reality show na vida real.
"Passei sete dias de cama, uma dor horrível, mas para a minha autoestima foi bom, como eu te disse, minha proposta de vida é evoluir", disse ela, ao relembrar da lipoaspiração que fez em fevereiro, numa entrevista a "O Estado de S. Paulo".
A conversão da jovem da periferia em celebridade segue um roteiro bem conhecido: fazer plástica (mais peito, menos barriga), ser destaque no Carnaval, participar de programas de auditório, lançar sua grife, enfim posar nua. Geisy completou o ciclo, que lembra menos a roda da fortuna do que a roda-viva.
Como quem intui que essa fantasia cobra um preço alto demais e pode evaporar num estalo, ela diz:
"Hoje mesmo fui atrás de um tapete de Cinderela, já tenho copos de Cinderela, lençol, toalha, meu quarto na casa nova vai ser todo de Cinderela -porque eu sou a Cinderela, você sabe, não é?".

1 comment:

Heloísa Sérvulo da Cunha said...

Cecília,
Muito bom esse texto.
Abordagem perfeita, não?
Beijo.