Thursday, November 18, 2010

Para nós que fazemos bom uso da Internet

CARLOS HEITOR CONY

Amor virtual
RIO DE JANEIRO - Recém chegado ao universo virtual, tenho sentimentos contraditórios a respeito da nova linguagem que, aparentemente, e até aqui, está unindo homens e mulheres, velhos e crianças, doentes e sadios numa humanidade especifica, que, por não ter existido antes, agora está sendo testada.
Ouve-se falar em abusos de sexo e pornografia, de pedofilia e outras taras que encontraram um espaço surpreendente na telinha. Telinha que, por bem ou por mal, está substituindo o livro, o jornal e a própria TV, uma vez que pode condensar tudo isso num pequeno e cada vez menor retângulo iluminado.
Assim como não me atrai a pizza que a gente encomenda, paga com cartão, mas recebe fria, o sexo virtual não me deslumbra suficientemente para me dedicar a ele. Prefiro o sexo em sua tradicional versão off-line.
Contudo, sou obrigado a reconhecer a eficiência da comunicação eletrônica, notadamente o e-mail, naquilo que antigamente os caretas chamavam de paquera e hoje tem outros nomes.
Pois o que acontece comigo -e deve acontecer com todo mundo- é a assombrosa capacidade do relacionamento virtual, que, entre mortos e feridos, sempre dá para pescar uma alma solitária, ou mesmo -levando ao limite- aquelas que se intitulam "coração em chamas", colocando-se adredes para receber o jato salvador que as inunda de salvação.
Um homem terminal, não por gosto, mas por contingência histórica, já não teria esperança e muito menos direito de manter certo tipo de diálogo com a geração que anda pelos vinte e tantos anos. No início, estranhei este tipo de diálogo/envolvimento, recusei alguns, pedindo que tomassem juízo.
Que eu próprio tivesse juízo. Mas começo a me habituar. E, um pouco envergonhado, admito que estou gostando.

1 comment:

Heloísa Sérvulo da Cunha said...

Cecília,
Admito que também gosto bastante.
O Cony é fantástico.
Beijos.